segunda-feira, 29 de junho de 2009

A crise econômica no Estado do Ceará

Histórico econômico


Após a ocupação oficial, tendo como marco a doação de sesmarias, o uso da terra fez-se através da pecuária com a produção de couro, posteriormente a atividade entrou em decadência dando inicio a atividade mais duradoura da região: a produção de algodão. Esta se tornou hegemônica rapidamente em virtude da conjuntura mundial, que lhe deu uma aceitação rápida no mercado externo, conjuntura esta marcada primeiramente pela Revolução Industrial Inglesa e continuou favorável com a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, transformando este num país industrializado nos mesmos moldes da Inglaterra, com a atividade têxtil, tendo como matéria-prima fundamental o algodão fornecido, dentre outros pelo estado em questão, o Ceará.A partir da segunda metade do século XIX e concomitantemente ao cultivo de algodão, a extração de cera de carnaúba pela carnaubeira (árvore local) passou a fazer parte da atividade econômica da região, dinamizando este circuito juntamente com o café, principal produto do país nesta época. Dentre as possibilidades da cera estão à produção de vela, papel carbono, graxa para calçado e mobílias, cera para carro, isolantes térmicos e mais alguns.O surto algodoeiro (Lima, Luiz Cruz, 2006) permitiu a implantação de ramais ferroviários incipientes e forçou a implantação de melhores condições portuárias. A instalação do primeiro trecho ferroviário possibilitou o surgimento de alguns núcleos urbanos: Fortaleza, Iguatu e Crato, a conseqüente expansão favoreceu Sobral, a oeste e Cariri, ao sul consolidando a posição econômica do estado. Além disso, a exploração de carnaúba no vale do Jaguaribe a partir de 1930 promoveu o crescimento da região. A construção de rodovias a partir da década de 1960 também contribui para melhoria da infra-estrutura do estado.Entretanto, estas transformações não foram suficientes, o fluxo cada vez mais intenso de pessoas e mercadorias exigiu uma adequação do território a uma lógica extremamente racional onde a logística de transportes e comunicações são fatores de suma importância.O Ceará passou por um período de estagnação, durante o regime militar os governos de Virgílio Távora e Cezar Cals realizaram alguns projetos interessantes no planejamento do estado (como a necessidade de criação de distritos industriais, dada a pouca disponibilidade de recursos naturais na região), mas que se mostraram insuficientes. Mas é a partir do governo Tasso Jereissati no fim dos anos 80 que se observa de fato uma mudança na ótica do planejamento territorial do estado, tendo como diretriz a instauração das infra – estruturas necessárias ao fortalecimento da economia local.Visando transformar os indicadores de desenvolvimento, todos os níveis da educação (básica, profissionalizante, superior e pesquisa) obtiveram progressos; Na saúde, com o programa de Agentes de Saúde da família, obteve-se uma redução satisfatória da mortalidade infantil que rendeu ao governo uma premiação pela UNESCO.Os governos desse período (1987 – 2007) promoveram melhoria na economia da região e também nos indicadores sociais. Além do programa de agentes de Saúde da Família citada anteriormente, serviços de abastecimento e tratamento de água e projetos como o luz em casa e luz no campo contribuíram para isto.O atual governo promoveu uma parceria com o governo federal e a Petrobrás viabilizando a construção de uma refinaria no estado, atualmente o Ceará possui uma economia exportadora bastante diversificada e um PIB definitivamente inserido na economia nacional. Mas até que ponto a atual crise econômica irá abalar esta ascensão do estado?



Índices econômicos do Ceará em 2008



O PIB do estado apresentou um crescimento de 6,02 % de janeiro a setembro de 2008, uma expansão menor que o mesmo período do ano anterior, que foi de 6,23%. Este comportamento foi semelhante ao do Brasil, que também apresentou um crescimento neste período menor que no mesmo do ano anterior.O desempenho do setor agropecuário apresentou um crescimento de 28,93% neste terceiro trimestre, crescimento superior ao mesmo período do ano passado e que também supera o crescimento acumulado de janeiro a setembro (26,10%). Este excelente desempenho foi possibilitado por condições climáticas favoráveis, com um inverno regular beneficiando a produção principalmente do milho, feijão, mandioca, e pelo acesso a sementes selecionadas, principalmente de feijão, algodão e milho. Além desses foi beneficiada a produção de uva, o mais novo produto da região.O setor industrial mostrou–se favorável, motivado pelos indicadores positivos da construção civil, em expansão desde 2004 em virtude da expansão de obras privadas, e do aumento de recursos para financiamento de imóveis a população, além da recuperação na renda pessoal que influenciam positivamente as pequenas construções e reformas em residências.Já a indústria de transformação teve crescimento mais moderado no acumulado até setembro (2,45%), um crescimento de 4,9 % neste terceiro trimestre revelou uma expansão maior que no trimestre anterior que foi de 2,3%, no entanto o primeiro trimestre apresentou o maior crescimento (6,1%). O gênero com maior e menor produção neste ano foram os produtos de metal (exceto maquinas e equipamentos) e a indústria têxtil, respectivamente.No setor de serviços também foi observado um crescimento. O comercio varejista cresceu em todas as atividades, o destaque fica por conta dos produtos de maior valor agregado, como os materiais de escritório e informática.Após a retração do consumo no setor automobilístico e de outros bens duráveis em virtude da diminuição da oferta de crédito a pessoa física, em especial no financiamento de automóveis, o governo, como resposta, isentou o IPI para carros populares e reduziu para os demais, exceto os de luxo numa tentativa de reaquecer o setor. A medida foi bem sucedida já que os preços dos automóveis diminuíram e, em dezembro, foram retomadas as vendas.O ano de 2008 foi favorável para o turismo cearense como mostram alguns de seus principais indicadores, como a demanda turística, via fortaleza, que se apresentou positiva de 4,4% em relação à demanda de 2007, significando um contingente de 2,17 milhões de visitantes ao Ceará. O mesmo comportamento foi verificado na demanda hoteleira que registrou uma variação positiva de 3,4% na mesma comparação, o que possibilitou uma taxa de ocupação de 57,3% contra 55,4% indicada em2007. Com relação ao comércio exterior as exportações cresceram em 11,2% rendendo uma receita de 1,28 bilhões de dólares, no entanto a balança comercial do estado apresentou déficit de 281 milhões de dólares explicado pelo crescimento do volume de importações, que neste ano foi de 1,56 bilhões de dólares, aumento de 10,7% com relação ao ano anterior. Este aumento foi motivado pela compra de bens de capital pelas empresas que atuam no estado, confiantes no crescimento econômico da região.As exportações foram basicamente de bens de consumo, sendo 71,46% de produtos industrializados. Os destaques são os setores de alimentos e bebidas, frutas, calçados e ceras vegetais; seus principais parceiros são EUA, Reino Unido e Argentina e os municípios que mais exportam são Fortaleza, Sobral e Cascavel.A maioria das importações do estado é de produtos industrializados, produtos químicos, metalúrgicos, materiais e energia elétrica estão são os destaques. Seus principais fornecedores são China, Índia e EUA e os principais importadores são os municípios de Fortaleza, Caucaia e Maracau.Com relação ao desemprego no estado, o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho realizou uma pesquisa na qual informa que a taxa de desemprego total teve discreta oscilação, passando de 11,8%, em dez/08, para 12%, em jan/09, segundo informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED/RMF). O número de desempregados permaneceu inalterado em 206 mil pessoas.Vale ressaltar a postura do governo com relação a outros indicadores como a taxa básica de juros do mercado (Selic), que vinha sendo reduzida e neste ultimo ano (08) voltou a ter aumento. Isto se deu por cautela do governo, temeroso de um aumento ida inflação.O estado teve um aumento de 13 % nas receitas com relação ao ano anterior (07). O principal gerador de receitas internas foi o ICMS e das receitas provenientes da união foi o Fundo de Participação dos Estados (FPE). O estado também teve aumento nas suas despesas e este foi de 15 %.Esses indicadores demonstram que o Estado do Ceará mantém a maior parte de seu PIB no terceiro setor, sendo forte a influência do turismo na região, e tendo este não sofrido abalos com a atual crise.



Balanço da crise no Estado



Diante dos indicadores do ultimo trimestre de 2008 e de informações mais recentes referentes ao ano de 09 observamos um Ceará atrelado à economia nacional, sofrendo os reflexos de algumas medidas como as taxas de juros e alterações cambiais.No entanto o volume de investimentos realizados nos últimos anos e a continuidade na realização de obras de caráter infra-estrutural além de movimentar a construção civil tem como objetivo diminuir a dependência do Ceará do restante do país fortalecendo seu mercado interno e gerando confiança em investidores e parceiros comerciais internacionais.Os investimentos em capacitação técnica e no incentivo a pesquisa foram responsáveis por uma melhoria significativa na condição social do trabalhador, que ajuda no aumento de receitas internas. Programas como luz no campo, bolsa família etc. embora de caráter paliativo, ajudam a minorar as condições subumanas de alguns e até inseri-los no mercado consumidor do estado.Com isso a demanda interna deve ser a principal fonte de crescimento, alavancada principalmente pelo aumento do Investimento público e consumo de bens não duráveis. Quanto à política monetária, o Governo Federal, por meio do COPOM, sinaliza a volta de uma política monetária mais flexível, com previsão de redução da Taxa de Juros Básica-Selic, ao longo de 2009, podendo fechar o ano com uma taxa próxima a 11%, o que beneficiará as empresas no enfrentamento da crise mundial ( a taxa em 2008 era de13,75%).Diante da estimativa do IPECE de crescimento de 3 % da economia cearense podemos concluir que esta crise, até agora, não foi capaz de provocar uma recessão no estado, mas apenas reduziu a velocidade de seu crescimento e que não gerou grandes reflexos na população local já que o desemprego se manteve constante.

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